A Passageira
O trem fez uma parada obrigatória. Infelizmente, a estação não era das melhores, parecia abandonada. Sentei numa cadeira dura e enferrujada e pedi um café forte. Enquanto lia os desastres no jornal, uma senhora de idade sentou-se defronte a mim. Era descuidada, maltrapilha, e me abordou sem cerimônia.
Ela me disse palavras ácidas e sinceras que machucavam e perfuravam meu peito. O mais estranho é que ela parecia ter mais conhecimento sobre mim do que eu jamais tivera, embora nunca a tivesse visto. A tal senhora plantou ânsias em meu interior, estragou meu dia e, como se não bastasse a estranheza, partiu repentinamente, mancando, sem esclarecimentos.
A maria-fumaça apitou, os passageiros voltavam ao vagão. Parti apressado, com pensamentos vagos. Não sentiria saudade daquela estação escura, suja e mal iluminada. O trem partiu, rumo ao negrume de um longo túnel, sufocante.
Para minha surpresa, no fim do corredor extenso fui cegado por uma luz repentina. O horizonte revelou-se diferente de outrora, estava ensolarado, verde, florido e indescritivelmente belo.
O destino para o qual o trem me levaria ainda era incerto, porém, sem dúvida, valeria a pena, ainda que viessem outras paradas indesejáveis. Subitamente, o encontro doloroso foi se apagando, virou lembrança distante. No entanto, jamais esquecerei da sabedoria encrustada nas palavras rígidas mas necessárias daquela velha senhora chamada Dor.
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