Milhões de Olhos por Toda Parte

O ônibus estacionou na parada e ela saltou para a calçada. A moça caminhava depressa, a passos largos. O coração tão acelerado quanto suas pernas. O corpo latejava e fervia ante a adrenalina que lhe tomava. A cada rua que cruzava olhava de soslaio nervosamente, podia haver alguém ali vindo em sua direção, um homem. Diante dessa possibilidade de encontro aterradora, apressou ainda mais sua caminhada. Faltava pouco, tão pouco para chegar ao seu destino! Mas cada esquina era perigosa para aquelas pernas femininas. Em algum momento ouviu passos atrás de si, viu por cima dos ombros, com sua visão periférica, uma figura masculina. Ele se aproximava e o peito dela parecia que iria explodir, já estava quase para correr e gritar e arfava como se tivesse participado de uma maratona. Para seu alívio o senhor passou veloz por ela e seguiu seu rumo. Era um sábado de manhã cedo, de pouco movimento nas ruas. Passavam alguns carros pela avenida e uns poucos transeuntes, mas não importava, ela estava sempre sozinha ou acompanhada de seus demônios, e eles tinham barba e braços musculosos. Talvez não houvesse ninguém para acudi-la, caso algum homem aparecesse e lhe puxasse para alguma ruela. Por isso, precisava correr para sobreviver. Ela era uma presa numa selva, rodeada de predadores. Fazia um dia cinzento, nublado, o que fermentava suas inseguranças. Não temia fantasmas, não temia monstros, não temia nada, exceto o homem, que poderia agarrá-la a qualquer momento. Chegou onde devia, estava segura, por enquanto. Andava sempre assim, cercada por milhões de olhos por toda parte...

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