Os Gatos
Quem nunca teve um arrepio na espinha ao ver o gato olhando fixamente para o nada no corredor escuro da casa? Quem nunca se espantou quando o gato, possuído pelo cão, repentinamente começa a miar, pular pelas paredes e derrubar tudo em seu caminho? Quem nunca entrou em depressão ao não encontrar o bichano, alimentando a triste certeza de que ele fugiu do lar, quando na verdade ele estava só escondido dentro do guarda-roupa? Ter um gatinho é garantia de muita emoção, ele não vai te deixar entendiado, salvo quando ele passar 352 horas dormindo como uma pedra.
No antigo Egito, quem matasse um gato, ainda que acidentalmente, era condenado à morte. Os felinos eram adornados com as joias da família e, quando morriam, seus donos raspavam as sombrancelhas em sinal de luto, tamanha a admiração dos egípcios por eles. Pois bem, de divindades, vários anos depois, os felinos passaram a ser perseguidos na Idade Média, especialmente os gatos pretos, pois acreditavam que tinham pacto com o demônio. Tal evento de certa forma contribuiu com a propagação da peste negra, em virtude do crescimento exarcebado da população de ratos, tendo vitimado cerca de 200 milhões de pessoas. Impressionantemente, ainda hoje os gatos são vistos por algumas pessoas como animais sujos ou que trazem mau presságio, um pensamento totalmente irracional. Os gatos são animais extremamente limpos e a sua língua, que serve como ducha, elimina pulgas e sujidades, além de resfriar o seu corpo.
Tenho uma gata chamada Lita, em homenagem a uma estrela do heavy metal. Ela é muito medrosa e ao mesmo tempo arisca. Seu pior medo é o entregador do gás, quando o ouve ela corre para se esconder na velocidade da luz, geralmente embaixo dos travesseiros, de forma que o homem do gás jamais a acharia. Pelo menos é o que ela acredita, afinal, ninguém suspeitaria de um travesseiro mondrongudo.
Os gatos, além de intrigantes, são deveras divertidos. Às vezes parecem entrar numa espécie de crise existencial, então, cedem a um caos momentâneo, correndo desembestado pela casa. Ninguém sabe o que leva a essa insanidade espontânea do gato, dizem que é acúmulo de energia que precisa ser liberada. Minha gata tem o que eu chamo de A Hora da Loucura, que é geralmente na hora do almoço, momento em que ela vai no quarto começa a miar e depois corre pela sala em disparada, pulando pelas paredes.
Todo tutor de gato que se preze torna-se um exímio cantor e compositor de canções ridículas envolvendo o seu bichano. São vexatórias para os humanos que as ouvem mas verdadeiros hits para os ouvidos felinos, que nos retribuem com reconfortantes ronronados. Geralmente entro no palco quando minha companheira felina vai encher a barriga de ração.
Entendo os gatos, também amo uma rotina, aquele aconchego da zona de conforto, de saber exatamente o que vai acontecer, quase como um experimento empírico, um ambiente controlado só nosso. Quem diz que não ama a rotina não está sendo sincero, todo mundo ama, embora também todos saibam que é mais saudável fugir dessa cela cinco estrelas e perder a chave.
A linguagem de amor do gato é muito diferente da do cachorro. O cachorro é um lago transparente, mostra tudo que está sentindo com muita intensidade e facilmente fica eufórico ao tentar demonstrar toda a sua adoração ao dono-deus. O gato não, disfarça com muita finesse e a gente tem que desvendar as entrelinhas, não à toa a esfinge tem aquele corpo felídeo. Mas quem é tutor de gato já percebe logo os sinais de afeto: o miado específico, o ronronado incontrolável, a cabeçada na nossa canela, a piscadinha lenta, o rabo ereto e tremendo, a perseguição, as lambidinhas… Infelizmente, também é uma batalha descobrir quando há algo errado com eles, pois possuem um orgulho astronômico, odeiam demonstrar suas fraquezas. Não condeno, nesse aspecto são muito humanos.
Já caiu por terra aquele mito de que gato é bicho traiçoeiro e só se apega à sua casa. Sabemos muito bem que ficam depressivos e perturbados quando os donos saem de casa por muito tempo. Tal como um cão, eles vêm correndo à porta para nos receber ao chegarmos da rua. Um estudo recente demonstrou que os gatos preferem contato humano à comida, e isso é muita coisa, os felinos nos amam e estão o tempo todo declarando isso para nós, basta ficar atento.
Observe o seu gato se quiser ter uma vida saudável. Alongue-se sempre que possível, assim como seu bichano faz ao arranhar o seu sofá, pois o alongamento melhora sua postura e previne lesões. Não esqueça do banho de sol, do jeito que seu felino faz ao ficar na varanda girando de barriga para cima recebendo os raios solares matinais. Saiba que o banho de sol tem benefícios inúmeros, podendo até combater a depressão e alguns tipos de câncer, bem como melhora nosso sistema imunológico. Acompanhe também o seu companheiro peludo na higienização pessoal, gatos são seres muito asseados e dedicam sempre um bom tempo na limpeza corporal. Por fim, durma, durma bastante, o seu gato sabe muito bem o quanto isso é essencial. O sono além de ter efeito reparador, auxilia ainda na fixação de aprendizados e melhora a cognição e memória, sem contar que reduz o estresse e lhe traz um bom humor. Pois bem, o seu gato é seu personal, siga os passos dele, da mesma forma que ele o segue pela casa toda.
Minha gata me ensinou que não são necessárias palavras para demonstrar que se ama, basta um gesto, um olhar ou simplesmente estar por perto. O amor é algo gratuito e não exige contraprestação. Se você acredita ter cometido um ato de amor mas espera alguma coisa em troca, isso não pode ser nomeado como tal sentimento. Agora peço licença, pois minha gata já está roçando nas minhas pernas rogando por mais ração. Talvez haja um buraco no centro do pote e ela não esteja enxergando a comida e ai de mim se eu não for prover seu alimento, levarei uma mordiscada na perna! Tchau, tchau (miau, miau).
Gostou do conteúdo? Deixe aqui o seu aplauso (que vai de 1 a 50) e/ou comentário. Caso tenha interesse, inscreva-se aqui para receber um e-mail toda vez que eu publicar um novo texto.
Instagram: @purapoesiaa